Não é a primeira vez na história que a humanidade se viu confrontada por um “inimigo” que provocou profundas mudanças sociais, culturais e tecnológicas. O Coronavírus (COVID-19), com consequências ainda não mensuráveis no Brasil e no mundo, parece ser um desses “inimigos” que, para além dos danos causados à humanidade, poderá impulsionar inovações em diferentes áreas da atuação humana, porque, ao gerar crises de diferentes níveis, recoloca o ser humano diante de sua própria fragilidade e, ao mesmo tempo, ao desorganizar nossos modos de pensar e fazer, aflora a criatividade e a capacidade de homens e mulheres de encontrarem soluções para problemas e necessidades comuns.
Diferentemente de outros períodos históricos em que ocorreram epidemias ou fenômenos naturais de vasta proporção, atualmente contamos com a rede de internet, que, além de impulsionar uma nova organização da sociedade, facilita a comunicação e o acesso às informações, ainda que, infelizmente, não esteja acessível a todos. Por isso, no âmbito da educação escolar, um dos desafios prementes é a inclusão digital, uma possibilidade de o estudante aprender em rede e participar de comunidades de aprendizagem que ultrapassem os limites físicos da sala de aula.
Um dos movimentos que tem mobilizado as escolas do país é o de implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), em âmbito nacional, e do Currículo Base do Território Catarinense (2019), em âmbito estadual, tendo sido iniciada a apropriação do Currículo da Educação Infantil e Ensino Fundamental, enquanto o documento do Ensino Médio encontra-se em construção. O documento estadual define as competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes catarinenses no processo de escolarização.
Esse momento nos convida a lançar olhares à competência geral nº 5 da BNCC, a qual prevê que ao final do percurso formativo todo estudante compreenda, utilize e crie tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
Essa conjuntura inédita requer compartilhamento de soluções e apoio mútuo, com atenção especial nas unidades escolares que atendem famílias mais vulneráveis. O período de distanciamento social, que gerou a suspensão das aulas presenciais, tem desafiado toda comunidade educacional – gestores, professores, especialistas, estudantes e suas respectivas famílias – a encontrar soluções que minimizem as possíveis defasagens em termos de aprendizagem. O desenvolvimento de atividades pedagógicas não presenciais, mediadas por tecnologias, tem sido uma alternativa “homeopática”, que amplia a inclusão digital, tanto dos professores quanto dos estudantes e seus familiares.
É nesta direção que grande parte das soluções vêm sendo desenvolvidas, testadas e implementadas pelas redes de ensino. Faz-se uso de tecnologias digitais que, de forma inédita, impulsionam inovações que alteram concepções e práticas relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem. Tais vivências estão acelerando a nossa inserção numa cultura ainda nova para muitos de nós, a cultura digital. É momento também de avaliarmos como nos sentimos nesse contexto: o novo nos assusta, inquieta, desperta?
Vivenciamos mais um momento histórico no qual somos provocados a refletir sobre o papel da escola no século XXI, bem como da educação, incluindo a educação extraescolar. Por consequência, somos convidados a pensar também sobre os múltiplos papeis que desempenhamos: mãe, pai, adulto responsável por uma criança ou um jovem, professor/educador. A situação nos leva a refletir: como o entrelaçar entre a educação e a cultura digital tem nos permitido (ou ainda permitirá) apoiar as novas gerações para que aprendam coisas novas em todos os contextos, se expressem, analisem criticamente as informações, desenvolvam estratégias para a resolução de problemas e exerçam o protagonismo na vida pessoal e coletiva.
Tratar de cultura digital não significa afirmar que nossa escola, no atual formato, esteja ultrapassada ou em retrocesso. A proposta não é a de que as ferramentas de Educação em Rede venham em substituição ao formato de escola presencial. O que de fato precisa ser valorizado é a realidade de que existem novas modalidades e ferramentas flexíveis de aprendizagem, e que cabe, a nós, encontrarmos caminhos para a conciliação da educação escolarizada às ferramentas tecnológicas, em prol de um ensino ativo. Importa criarmos pontes para que essa relação se estabeleça de forma a valorizar o enorme potencial comunicativo e de aprendizagem dessas ferramentas.
É necessário deixar claro que proporcionar o desenvolvimento de cultura digital a partir do acesso às tecnologias, exige uma atitude consciente e ativa por parte de seus usuários. É imprescindível nos apropriarmos efetivamente dessa cultura digital, ainda tão estranha a muitos de nós. Que possamos, ao final desse processo, ter alunos que utilizem essa linguagem, já comum à maior parte deles, para o aprendizado de conhecimentos que impulsionem seu desenvolvimento. Que tenhamos também professores mais fortalecidos, qualificados, utilizando práticas pedagógicas centradas no protagonismo do estudante, visando desenvolver, para além dos conteúdos, o letramento digital, possibilitando o desenvolvimento de cidadãos com uma postura crítica, criativa, colaborativa e com foco na resolução de problemas.
Por dentro dessa dinâmica é preciso sabedoria, prudência e solidariedade para construir caminhos de inclusão digital no processo educacional, considerando a leis vigentes e sem dissociar o respeito ao outro, aos direitos humanos, a valorização da diversidade de indivíduos e grupos sociais. Todos somos, de uma forma ou de outra, afetados pelas decisões de ordem pública.
Sigamos vigilantes e solidários!
Mais informações:
Gerência de Gestão da Educação Fundamental
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